A convivência com o Semiárido como condição Sine qua non para a produção sustentável de alimentos na região. Realidade, desafios e perspectivas
Antonio
Gomes Barbosa[1]
Naidison
de Quintella Baptista[2]
I - O Semiárido, seu território
e o combate à seca.
O
Semiárido brasileiro tem área de 982.566 Km², isso representa 18,2% do
território nacional e 53% da região Nordeste, sendo: 93,4% do estado do Rio
Grande do Norte, 86,8% do Ceará, 86,6%
da Paraíba, 88,0% do Pernambuco, 69,7% do território da Bahia, 59,9% do Piauí, 50,9%
do Sergipe, 45,6% de Alagoas, além de 17,7% do Norte de Minas Gerais[i]. São
1.135 municípios, 20,41% do municípios do país. Sua população é de 22.598.318
habitantes, 11,84% da população brasileira, sendo 14.003.118 nas áreas urbanas
e 8.592.200 nas áreas rurais, o que representa 28,82% de toda população rural
do país. Em estabelecimentos rurais, são mais de um milhão e setecentos mil
(33% em relação ao total no país), 1,5 milhão de agricultura familiar. (IBGE,
Censo Demográfico).
Rico
em biodiversidade, o Semiárido, que alguns preferem denominar de “sertão”, para
diferi-lo do litoral, apresenta, de acordo com a EMBRAPA SEMIÁRIDO, mais de 160
microclimas, todos caracterizados por um alto poder de resistência e
resiliência. Mesmo com longos períodos de estiagem, plantas e animais resistem
e apresentam grande capacidade de regeneração. É só cair as primeiras chuvas e
tudo que era cinza e parecia morto, vira verde e esbanja vida. É também no
Semiárido, de acordo com a pesquisadora Niéde Guidon, que se registram as
primeiras marcas de ocupação humana das Américas. Podemos dizer que a riqueza
dessa região não se expressa apenas em sua fauna, flora, pinturas rupestres
e/ou formações rochosas (cristalino na maior parte). O maior patrimônio do
Semiárido é, principalmente, a diversidade cultural de seu povo:
agricultores/as, vaqueiros/as, ribeirinhos/as, quilombolas, comunidades de
fundo de pasto, indígenas, extrativistas, geraizeiros, quebradeiras de coco,
outros, que cultivam, criam, extraem, cantam, dançam, observam e produzem
conhecimentos.
O
Semiárido é, sem dúvida, um dos ecossistemas mais intrigantes e fascinantes do
planeta! Expressões de admiração e encantamento são comuns às pessoas que tem a
oportunidade de observar de perto esta região, sobretudo, estudiosos da
Biologia, Botânica, Antropologia, Geografia, Paleontologia, História,
Sociologia, Jornalismo, Fotografia, dentre tantas outras áreas do conhecimento.
Embora
já exista fisicamente há milhões de anos, o Semiárido brasileiro é um espaço
novo. Sua construção simbólica difere-se de Nordeste, espaço midiático
associado à falta de água, animais mortos, crianças desnutridas, fome, êxodo,
terra rachada, pessoas incapazes, indústria da seca; difere-se também de
sertão, construído em oposição ao litoral, e difere-se de Norte em oposição ao
Sul. Sendo novo, é pouco carregado de preconceitos e configura uma imagem
positiva, não como negação ou oposição, mas como um lugar simbólico. Sem
dúvida, a associação de Semiárido à ideia de convivência é uma das causas mais
consistentes para esta imagem positiva.
Maior
parte do Semiárido é ocupado pela caatinga, único bioma exclusivamente
brasileiro, apresenta enorme variedade de paisagens, relativa riqueza biológica
e endemismo. Sua diversidade é constituída de, pelo menos, 12 tipos diferentes
de caatingas, que chamam atenção especial pelos exemplos fascinantes de
adaptações ao habitat Semiárido. A vegetação é composta, principalmente, de
espécies lenhosas, cactáceas, bromeliáceas e pequenas herbáceas, geralmente com
espinhos e caducifólias. Inclui, pelo menos, uma centena de diferentes tipos de
paisagens únicas, sendo rica em espécies. Já foram registradas 932 espécies de
plantas vasculares das quais 380 são endêmicas e 20 gêneros pertencentes a 42
famílias. Além disso, registra-se a existência de 185 espécies de peixes (57%
de endemismo), 154 de répteis e anfíbios, 348 de aves (4,3% de endemismo) e 148
espécies de mamíferos.
Com
toda esta riqueza natural a caatinga, porém, vem enfrentando um processo
sistemático de devastação, cerca de 16.570 Km² nos últimos dez anos, segundo
dados do Ministério do Meio Ambiente. A caatinga é devastada para a fabricação
de carvão, criação de gado e para dar lugar à monocultura e mineração, entre
outros fatores (Barbosa, 2011).
Quando
se fala em Semiárido, uma questão emerge de imediato: a água, a chuva e a seca.
Normalmente se afirma que não chove o suficiente, que há falta de água e que
este é o maior problema do Semiárido. Essa é uma verdade relativa, pois existem
diferenças marcantes do ponto de vista da precipitação anual de uma região para
outra. Em alguns locais o índice das
chuvas pode chegar a 800 milímetros por ano, enquanto em outros a média passa
apenas um pouco além de 300 milímetros. Temos no Brasil o Semiárido mais
chuvoso do mundo, porém, as chuvas são concentradas em poucos meses e mais de
90% de suas águas não são aproveitadas devido à sua evaporação, ao seu
escoamento superficial e ao péssimo sistema de armazenamento ainda em vigor no
Semiárido brasileiro, que vem melhorando a partir dos programas federais e
alguns estaduais de captação de água das chuvas.
Uma
reflexão sobre o Semiárido, no entanto, precisa ater-se a outros fatores
marcantes e significativos para a compreensão de sua realidade. Entre elas, o
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) que se localiza-entre os mais baixos do
Brasil. Por que isso?
O
Semiárido quase sempre foi tratado como inviável. É projetado como um lugar que
não serve para nada e seu povo é tratado como incapaz. Na realidade, nem o Semiárido é inviável nem
seu povo é incapaz. O que ocorre é que durante muito tempo e, em muitos casos,
ainda nos dias de hoje, as únicas políticas oficiais destinadas à região foram
àquelas denominadas de “combate à seca”. São políticas que estavam e estão
voltadas para grandes obras, normalmente destinadas a criar oportunidades para
os mais ricos e que vinham unidas a projetos assistencialistas voltados para os
mais pobres, como doações, esmolas, distribuição de víveres, carros-pipa e
ações semelhantes. Essas políticas nunca tiveram, nem têm objetivo de resolver
as questões e os problemas do Semiárido.
As ações de combate à seca sempre aparecem como “atos de bondade”, mas
propositalmente são criadas e mantidas para garantir que o Semiárido e seu povo
permaneçam sem vez e sem voz, dependentes. Permaneçam na subalternidade.
Como
se sabe, essas políticas normalmente são ligadas ao voto e mantêm no poder as
mesmas pessoas e grupos oligárquicos, através da compra de votos. Assim, através de doações e políticas
assistencialistas não voltadas para resolver os problemas do povo do Semiárido,
foi mantida e favorecida a concentração da terra nos latifúndios, nos grandes
projetos do agronegócio e nas grandes fazendas de gado. Enquanto isso, muitos
agricultores e agricultoras continuam trabalhando em terras alheias ou em
minifúndios superexplorados, fragilizando sua segurança alimentar (ASA Ceará,
2006). De igual modo, durante muitos anos foram construídos muitos poços e
açudes no Semiárido, mas em terras de ricos e fazendeiros. Por isso, em cada
seca ocorrida os ricos se tornavam mais ricos, concentradores de mais água em
suas terras, com mais terra e mais poder. E os mais pobres, ou migravam ou
ficavam mais miseráveis.
Nessa
região, terra e água sempre estiveram nas mãos de uma pequena elite, gerando
níveis altíssimos de exclusão social e de degradação ambiental. Essa realidade
atinge, em particular, cerca de 1,5 milhões de famílias agricultoras que vivem
no Semiárido brasileiro. Elas representam 28,82% de toda a agricultura familiar
brasileira e ocupam apenas 4,2% das terras agricultáveis. No Semiárido 1,3% dos
estabelecimentos rurais (não familiares) têm 38% das terras e 47% dos
estabelecimentos menores têm, em conjunto, 3% das terras (IBGE, 2006). A
concentração de terra está, indissociavelmente, ligada à concentração da água,
representando os fatores determinantes da crise socioambiental e econômica
vivida na região.
As
famílias sem terra ou com pouca terra são as que menos se beneficiam das
chamadas ‘inovações’, permanecendo em situação de grande vulnerabilidade social
e alimentar. Esse quadro evoca a necessidade de profunda reestruturação
fundiária, para que o ideal de uma agricultura sustentável e democrática, com
segurança e soberania alimentar e nutricional, seja efetivamente alcançado.
A
precipitação pluviométrica da região Semiárida é marcada por chuvas
irregulares, tanto na distribuição quanto no espaço e no tempo. Varia entre 300
e 800 mm por ano. Na região ocorre uma evaporação muito superior à precipitação,
em média, para cada metros cúbico de agua que vai nas chuvas, existe o
potencial para evaporar três Estudos hidrográficos apontam que muitas vezes,
quando a água é encontrada no subsolo, através da perfuração de poços
tubulares, cacimbões ou artesianos, encontra-se água salobra e de péssima
qualidade para o consumo humano e animal.
O
clima é uma das características mais importantes da região, principalmente pela
ocorrência do fenômeno das “grandes secas” caracterizadas pelo esgotamento da
umidade do solo, fenecimento das plantas por falta de água, depleção do
suprimento de água subterrânea e redução e eventual cessação do fluxo dos
cursos de água. A seca é sinônimo de tragédia que provoca grandes problemas
sociais, econômicos e políticos na região.
Destrói as atividades agrícolas e pecuárias e agrava a falta de água até
mesmo para o consumo humano. Ocasiona a sede, a fome e muitas mortes em
consequência de doenças provocadas pela ingestão de águas impuras e
contaminadas.
A
cada período forte de estiagem, milhares de pessoas que vivem no Semiárido não
conseguem satisfazer suas necessidades de acesso à água e a alimentos básicos.
Ao contrário do que se diz comumente, as causas dessa realidade não podem ser
creditadas às limitações do meio ambiente ou das populações locais. Elas são,
sobretudo, de natureza política e se expressam na enorme crise socioambiental
que vivemos. O problema, assim, não está apenas na inexistência de água
suficiente, mas no fato de chover apenas um período do ano, ao que se somam os
processos inadequados de armazenamento. Ou seja, desperdiçamos quase toda a
água das chuvas porque não a armazenamos adequadamente. A questão reside,
então, muito mais na falta de estruturas adequadas de armazenamento
Há,
ainda, outras ações e politicas que intensificam os problemas do Semiárido,
como a educação oferecida aos filhos e filhas dos agricultores. Quase sempre é
uma educação descontextualizada, que coloca na cabeça das crianças a
mentalidade de que na roça e no Semiárido não há possibilidade de vida. Pelo
que se estuda, debate, lê e se faz em muitas escolas, conclui-se que quem quer
viver bem e dignamente não deveria seguir a trilha e a história dos próprios
pais e antepassados, mas sim, migrar do Semiárido. Permanecer no Semiárido não
seria uma ação inteligente, pois ali não há possibilidade de vida digna
(Baptista, 2005; Moura, 2003; RESAB, 2006).
Ou
seja, elemento importante para uma melhor caracterização da construção social do
Semiárido consiste na análise aprofundada do papel das escolas na região. São
elas que “educam” ou “deseducam” os filhos dos agricultores e agricultoras
familiares, camponeses, extrativistas, ribeirinhos e todos os que vivem no
Semiárido. E, bem ou mal, elas têm contatos diários com as crianças e
adolescentes. Moura, ao analisar o papel das escolas na vida das crianças,
afirma que, apesar de todos os limites e problemas que elas enfrentam,
desempenham com exímia eficiência um papel chave e fundamental, ao difundir o
currículo oculto da desvalorização do Semiárido. Segundo este autor, a escola,
no Nordeste vem ensinando durante décadas aos alunos que:
Eles,
para ser felizes, teriam de migrar para as grandes cidades; teriam que
abandonar a agricultura para ter oportunidade na vida; que a agricultura era o
cabo na enxada e o trabalho penoso que seus pais realizavam porque não sabiam
ler; que deviam aprender bem para não terminar a vida como seus pais; que ser
do campo era coisa de matuto, brocoió, pé rapado, ignorante; que o pessoal da
cidade era mais inteligente, falava melhor, tinha vida melhor, porque eram da
cidade. [...] em troca do código escrito que ela ensina, a escola roubou a
identidade, deixou os alunos com vergonha de seus pais e de seu ambiente.
Baixou sua autoestima (Moura, 2005, p. 20).
Essa
é a escola que encontramos na maioria dos espaços no campo e do Semiárido.
Descontextualizada, ignorando intencionalmente a realidade onde está inserida e
a serviço de cuja modificação deveria estar atuando. Por isso, a realidade do
Semiárido, suas perspectivas, os valores de seu povo, sua música, seus
costumes, danças, comidas, lutas, são dimensões ausentes não apenas dos livros didáticos,
mas de debates e conteúdos outros que os professores desenvolvem para além dos
livros didáticos.
A
escola, como hoje se apresenta, não contribui para o desenvolvimento
sustentável e a convivência, além de reforçar o caminho do combate à seca. Muitos
livros e pesquisas fazem, com profundidade, esta análise (Moura, 2006; RESAAB,
2006). Moura afirma que a escola desfaz tudo aquilo que se constrói com as
comunidades, nas dimensões do trabalho comunitário. Segundo Moura (2011, p. 23
- 24),
queríamos
que as pessoas acreditassem em si mesmas e a escola preparava para o êxodo;
queríamos debater os problemas comunitários para encontrar solução para eles e
a escola nem tocava no assunto; queríamos construir conhecimento com os
adultos, mas eles eram analfabetos e na escola se trabalhava com os alunos 04
horas todos os dias, mas não se construía conhecimentos válidos para melhorar
suas propriedades; a escola não apresentava as experiências das famílias e nem
as famílias levavam nada da escola para si mesmas.
Em
resumo, na impossibilidade de negar a escolaridade aos habitantes da área rural
e do Semiárido, especialmente aos habitantes do campo, o sistema instala uma
escola que “educa” os filhos dos agricultores familiares para desconhecerem e
terem vergonha de sua própria cultura e modo de ser, para migrarem e
renunciarem a si mesmos. Cria-se uma escola descontextualizada cuja missão
fundamental é negar a convivência com o Semiárido e enraizar o processo de
combate à seca. Há uma coerência entre o que se faz na educação, na extensão e
na assistência técnica, na perspectiva produtivista e o que se ensina e como se
educa na escola. Mais uma vez se torna evidente que essa escola não contribui
para que as pessoas do Semiárido entendam a desertificação que cresce a olhos
vistos nos seus ambientes, porque não a debatem, nem analisam suas causas e
consequências.
Nesse
processo escolar estamos novamente na “educação bancária” na qual cabe aos
professores transmitirem conteúdos que outros determinaram e cujos objetivos não
se explicitam. Cabe aos alunos decorar e repetir. Os professores não constroem
conhecimentos, apenas os transmitem. Os alunos nem constroem e nem transmitem.
Apenas recebem. Constrói-se, assim, a pessoa submissa, que não é cidadã, não
reflete, não interfere. Apenas obedece.
É
neste cenário de negação de direitos que vive a juventude rural do Semiárido,
sem perspectivas e sem possibilidade de acessar a terra e seus recursos
naturais, muitos constroem desde cedo o desejo de ir para cidade grande
desfrutar de uma realidade idealizada. Este comportamento é perfeitamente
compreendido quanto se confrontam os imaginários de urbano e de rural
nordestino, sendo este último constituído de violência simbólica.
Vitimada,
a alternativa aparente para a juventude em geral seria negar o lugar e seus
significados, imputando a falta de direito como consequência do lugar e não da
política. Para agravar ainda mais a situação, normalmente quando se constrói
uma política para manter os jovens no campo, o olhar não é para o rural, a
manutenção da juventude no meio rural não está associada ao seu bem-estar, e
sim, ao seu possível efeito negativo no espaço urbano, inchaço, violência,
etc., ou seja, mesmo as políticas supostamente criadas para o rural são na
verdade para o bem do urbano.
A
juventude tem uma força tão singular que ela sublima estas questões e
resignifica o lugar e constrói para ela mesma outros papeis, constrói formas de
resistência e resiliência. A reconstrução do imaginário do rural Semiárido como
belo e produtor de conhecimentos é uma estratégia de negação da negação, um dos
mais fortes princípios da dialética marxista, não como teoria, mas como
sentimento e vivência. Neste movimento, tem papel importante os grupos de
jovens, as pastorais rurais, as iniciativas de formação, os pontos de cultura,
as rádios comunitárias, os grupos culturais, as escolas família agrícola, as
iniciativas de educação contextualizada. A beleza e simplicidade da juventude
está, sobretudo, em sua forma de resistir e retomar seus territórios,
simbólicos ou materiais, de não ter medo no novo, de acreditar no possível. Os
desafios são muitos, mas seu poder criativo e inventivo é ainda maior.
A
favor desta juventude, na afirmação de sua identidade, na última década, o
imaginário de Semiárido rural tem se fortalecido positivamente a partir de
ações de convivência com o meio e da valorização dos conhecimentos endógenos.
Hoje, o envolvimento de jovens em ações como o Programa Um Milhão de Cisternas
(P1MC), o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) e outros, não é apenas mais
uma atividade, constitui protagonismo, propósito e tem ajudado na constituição
de uma nova ruralidade. A do bem viver.
II - Elementos de
convivência com o Semiárido
Na
contracorrente, nasce e se fortifica o processo de convivência com o Semiárido.
A convivência com o Semiárido é antes de tudo um movimento endógeno, construído
na luta diária de mulheres e homens em distintas fases de suas vidas,
portadoras/es de um vasto saber adquirido a partir da observação da natureza ao
longo dos tempos. Estes homens e mulheres aprenderam a arte de conviver com o
meio ambiente olhando os ciclos das chuvas e das secas, o comportamento das
plantas, dos animais e as características do clima e do solo. Neste movimento,
foram múltiplas as iniciativas e estratégias construídas pelas famílias para
suprir suas necessidades, sobretudo para a garantia do acesso à água e aos
alimentos.
Em
oposição à convivência com o Semiárido, tem-se o “combate à seca”, movimento
exógeno, que parte dos supostos limites, todos comparados de fora para dentro,
e propõe a artificialização da região de forma a torná-la igual ao território
referência, não considera as estratégias e conhecimentos construídos localmente,
o que o torna totalmente ineficiente e danoso à região. Ainda em uso no
Semiárido, nos dias de hoje, o combate à seca expressa-se na transposição do
Rio São Francisco, nas cisternas de polietileno e ainda tenta resgatar as
famigeradas frentes de trabalho como a escavação de açudes em terras dos mais
ricos e ações que mantinham uns cada vez mais ricos às custas da maioria pobre
e miserável, a base da indústria da seca. Estas estratégias provocaram a
concentração da terra, da água, do saber, do poder e o aumento crescente da
fome e da miséria no Semiárido. Portanto, na linha de raciocínio até aqui
construído, o único combate possível no Semiárido, é o combate ao “combate à
seca”, não como mera oposição, mas, como necessidade premente para a
consolidação de um novo marco civilizatório para a região.
Assim
é que, numa outra perspectiva, nas últimas décadas, com a contribuição de
diversos atores, governamentais e não governamentais, vem sendo gerada outra
concepção de ver, trabalhar e construir o Semiárido, baseada na compreensão:
que seu povo é cidadão; que seca não se combate; que é possível conviver com a
semiaridez; que a região é viável; que uma sociedade justa se constrói baseada
em equidade de gênero, tendo as mulheres como protagonistas de seus destinos; e
que é essencial o desenvolvimento de um processo de educação para a convivência
com o Semiárido que valorize o conhecimento construído pelo seu povo. Nasce, assim, a perspectiva da “convivência
com o Semiárido”.
Conviver
com o Semiárido significa viver, produzir e desenvolver-se, não dentro de uma
mentalidade que valoriza e promove a concentração de bens, mas sim enfatiza a
partilha, a justiça e a equidade, querendo bem à natureza e cuidando de sua
conservação. Conviver com o Semiárido não significa apenas empregar tecnologias
diferentes, quer sejam baratas ou caras. Significa abraçar uma proposta de desenvolvimento
que afirma ser o Semiárido viável, ser o seu povo inteligente e capaz, ser a
natureza do Semiárido rica e possível, desde que os seres humanos com ela se
relacionem de modo respeitoso e que haja políticas públicas adequadas
1. A
cultura do estoque.
As
reflexões acima apontam princípios e práticas de convivência com o Semiárido e
indicam que é preciso ter as pessoas humanas no centro dos processos, numa
relação de equidade, justiça e convivência harmônica com a natureza. A Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), rede de
organizações da sociedade civil que atua na região, responsável pela implantação
e gestão do Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o
Semiárido: Um Milhão de Cisternas (P1MC) e Uma Terra e Duas Águas (P1+2), tem destacado
que a base da convivência com o Semiárido, sendo para as pessoas, reside, sobretudo,
na cultura, na política e na estratégia de estoque. Destaca a necessidade de
que todas as ações desenvolvidas na região: a educação formal, a assistência
técnica, o crédito, as infraestruturas, etc., explicitem e dinamizem essa
perspectiva. O estoque é a base da convivência e do bem viver, não apenas para as
regiões semiáridas, mas, para todas aquelas em que os plantios sejam temporais
e exigem estratégia de manutenção e armazenamento de alimentos.
Abaixo,
destacamos as principais estratégias de estoque para a convivência como o
Semiárido:
1.1.Estoque de água.
Para a
ASA, o acesso à água é um direito humano fundamental que precisa ser garantido
para toda a população, na perspectiva da segurança alimentar e nutricional.
Este direito está nas leis, nos documentos das Conferências de Segurança
Alimentar e Nutricional e em muitos documentos oficiais e das organizações da
sociedade civil, mas muitos homens e mulheres ainda não têm assegurado o seu
direito à água para o consumo humano e para a produção. No semiárido existe
água e, dependendo das regiões, chove bem. Hoje há estruturas de armazenamento
para quase 37 bilhões de metros cúbicos de água, especialmente nos grandes
açudes. O problema é que toda ou quase toda essa água está destinada às cidades
ou concentrada nas mãos de poucos, enquanto a maioria passa sede. Os programas
Um Milhão de Cisternas Rurais (P1MC) e Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da ASA,
assim como o Programa Água para Todos do Governo Federal, têm garantido as
condições mínimas das famílias terem acesso à água para o consumo humano e para
a produção, quebrando a hegemonia da concentração de água nas mãos de poucos,
em detrimento da miséria de muitos. Atualmente são mais de 700 mil famílias com
água para o consumo humano, o que corresponde a aproximadamente 3,5 milhões de
pessoas. Alegra-nos constatar que a proposta de cisternas da ASA se transformou
no Programa Cisternas do governo federal, que busca atender a 1,25 milhão de
famílias e, por conseguinte, contemplar 6,25 milhões de pessoas. Para a
estratégia de estoque da água, a ASA propõe cinco linhas:
a)
Água para beber e cozinhar
- A água das chuvas é estocada em reservatórios cilíndricos de 16 mil litros,
construídos próximos à casa do agricultor. Este tipo de armazenamento se
difundiu muito no Semiárido pelo Programa Cisternas do MDS, pelo Programa Um
Milhão de Cisternas Rurais (P1MC) da ASA, por cisternas comunitárias e por
vários programas governamentais de acesso à água, nos vários estados do Semiárido.
Atualmente já existem, no Semiárido brasileiro, cerca de 700 mil dessas
cisternas, garantindo água de qualidade a quase três milhões e meio de pessoas.
Isso não veio de graça. É resultado de muita luta.
b)
Água para a produção - A
população dispersa do Semiárido necessita de alternativas de captação da água
para dar de beber aos animais e para a produção de alimentos que garantam a
segurança alimentar e nutricional. Neste campo estão as bem sucedidas
experiências de pequenas irrigações por gotejamento e micro aspersão, as
barragens sucessivas, a perenização de rios normalmente secos, a partir da
utilização da água de barragens. Aí estão também as cisternas de enxurrada, as
cisternas calçadão, os tanques de pedra, as barragens subterrâneas, os
barreiros trincheira, as aguadas e outras tecnologias de captação de águas das
chuvas e sua estocagem para os períodos secos.
c)
Água para as comunidades
- As famílias do Semiárido têm como referência suas localidades, comunidades,
vilarejos e pequenas cidades. Mesmo quando elas possuem as cisternas de beber e
outros modos de acesso à água para a produção de alimentos, muitas vezes,
falta-lhes água para os demais usos domésticos. Nestes casos, as aguadas
comunitárias servem para suprir os demais usos da casa, da propriedade e para
dar de beber aos animais. Em todo Semiárido existem práticas valiosas de
armazenamento e uso de água nesta perspectiva, que começam a se projetar para o
campo de políticas públicas.
d)
Água de emergência - Durante
os anos mais secos é preciso ter a garantia de poços artesianos, de aguadas
mais fortes e de barragens maiores. Assim, se as aguadas familiares secarem, as
pessoas e os animais terão como se socorrer. Muitos poços perfurados e com
pouca vazão se encontram sem nenhuma utilização, abandonados, pois em muitos
destes não compensa a instalação de motor e bomba para se retirar a água. Para
resolver este problema de bombeamento, a bomba d’água popular (BAP) cumpre um
papel importante. Os muitos poços artesianos de baixa vazão espalhados pelo
sertão e, atualmente, sem utilidade, poderão ser utilizados, através da bomba
BAP, como uma alternativa para socorrer os rebanhos nos períodos mais secos.
e) Água do meio
ambiente – Devido aos graves processos de
devastação dos solos, da vegetação e dos córregos, riachos e rios no Semiárido,
algumas tecnologias e práticas podem ajudar a restabelecer fontes de água,
recuperar solos e cobertura vegetal, dentre essas tecnologias e práticas
podemos citas a construção de barragens sucessivas, barraginhas sucessivas e
barragens subterrâneas.
1.2.Estoque
de alimentos e de sementes.
Assim
como se incentiva o armazenamento de água e de alimentos para os animais nos
tempos mais difíceis, o mesmo pode ser feito para que todas as pessoas possam
ter alimentos bons e saudáveis durante todo o tempo. Vamos ver algumas maneiras
de guardar os alimentos:
a)
Armazenamento de grãos
Guardar os grãos que se necessita para a alimentação durante
todo o ano e fazê-lo de forma natural, sem utilizar agrotóxicos e venenos é uma
estratégia importante de segurança alimentar. Neste caminho há a recuperação de
muitas técnicas tradicionais como os silos e a inserção de outras, como as
garrafas PET reutilizadas como recipientes para guardar os alimentos.
b)
Armazenamento de sementes
Estas também podem ser armazenadas por várias outras razões:
para que não se percam as variedades de plantas e grãos que, no sertão, servem
para a alimentação humana, pois guardar a semente é guardar a vida; porque quem
guarda sua semente tem sempre a possibilidade de plantar quando aparece a
primeira chuva, com mais autonomia. Além disso, há o grande perigo que a
dependência de sementes externas causa aos agricultores familiares do Semiárido,
comprometendo a soberania alimentar. Hoje muitas sementes são modificadas em
laboratórios para só desenvolverem plantas fortes se for utilizada uma grande
quantidade de venenos adequados àquelas plantas. Ao mesmo tempo, elas são
modificadas para produzir sementes de baixa germinação para a próxima safra. Em
consequência, os agricultores precisam sempre comprar venenos e sementes das
empresas, ficando dependentes. Esta dependência pode fazer com que muitos
agricultores se transformem em mão de obra barata para as grandes empresas, ao
invés de terem a sua própria produção familiar.
O armazenamento ocorre de dois modos: pelos bancos de
sementes comunitários, que são apropriados para guardar diversos tipos de
sementes da comunidade (coentro, abóbora, quiabo, milho, feijão, andu e
outras); pelo armazenamento familiar, onde cada família guarda suas próprias
sementes para garantir seu plantio e autonomia.
c)
Guardar as sementes de animais
Importantes também são as experiências de guardar as sementes
de animais do Semiárido. A criação de raças adaptadas ao clima e às
necessidades das famílias integra também as preocupações relacionadas às
condições de viver e produzir no Semiárido. Elas garantem que se continue a ter
os animais que são adequados, garantem a vida na região e são fundamentais para
a alimentação humana. O Semiárido tem animais adequados, que vivem e se
reproduzem bem na região, cujo trato os agricultores dominam e que não devem
ser extintos. Muitas vezes, com a desculpa de melhorias genéticas,
introduzem-se, em pacotes técnicos impostos via doações e outros processos,
outros tipos de animais que não se adaptam à região e cujo trato não se
domina. Para garantir a vida deve-se
garantir a semente – na expressão dos próprios agricultores – dos animais adequados,
nativos e resistentes. Os pequenos criatórios são como que uma poupança para os
agricultores. A existência de uma multiplicidade deles nas propriedades garante
a vida e a segurança alimentar e gera autonomia.
1.3.Estocar alimento para os animais
Na região semiárida a água e as plantas são suficientes para
as pessoas e os animais viverem bem. No entanto, muito do que é produzido ou
disponibilizado pela natureza é desperdiçado. Por isso, um elemento chave da
convivência com o semiárido consiste em se guardar o alimento para os animais.
Algumas técnicas de armazenamento de alimentação são:
a)
Ensilagem
É uma maneira de estocar forragem que serve de alimento para
os animais. A forragem pode ser estocada em silos feitos em cima do chão,
chamados de silos de superfície ou dentro de uma vala comprida que se chama
silos trincheira.
b)
Fenação
Consiste em desidratar alimentos produzindo a forragem que é
alimento estocado para os animais. Muitas plantas forrageiras podem ser
fenadas.
c)
Palhadas
Resulta de guardar e armazenar as palhas que sobram na
colheita. Esta palhada, se armazenada em local seco e arejado, torna-se
alimento para os animais na época da estiagem.
d)
Cultivo de plantas
forrageiras
Consiste em cultivar plantas adequadas ao Semiárido que podem
ser utilizadas na produção de forragens. Alguns tipos são: palma, mandioca,
melancia forrageira, andu, leucena, sorgo e outras.
2. Assistência
técnica, Crédito, Micro-créditos e Fundos Rotativos Solidários
Os
processos que descrevemos até agora existem em muitos espaços do Semiárido. No
entanto, para que se ampliem numa mesma propriedade e sejam mais difundidos é
essencial haver assistência técnica e crédito. Uma assistência técnica que se
desenvolva de modo sistêmico, constante, realizada tanto por organismos
governamentais quanto por organizações não governamentais, numa linha de
universalização e baseada em princípios e metodologias agroecológicas, que
tenha os conhecimentos e experiências dos agricultores no centro dos processos,
sem desprezar o conhecimento cientifico, mas onde a metodologia do intercâmbio
entre agricultores seja a metodologia básica. Por outro lado, é preciso um
crédito adequado que sirva de base para a dinamização de todos os processos
descritos e viabilize a cultura do estoque e os demais processos aqui
descritos.
No
entanto a assistência técnica de que se dispõe ainda é descontinua, não
considera suficientemente a realidade do Semiárido, de modo especial ainda não
se centra na perspectiva da cultura do estoque e, deste modo não se voltam para
a viabilização do processo de convivência. Há iniciativas bem interessantes
como as chamadas de ATER a nível federal e em alguns estados e experiências de
muitas organizações não governamentais. Mas ainda insuficientes na perspectiva
de suprir as necessidades reais das comunidades e dos agricultores e
agricultoras.
Destaque-se
que estas experiências começam a incorporar elementos importantes e vitais no
processo de assistência técnica, como a questão da produção de conhecimento.
Neste particular, assumem agricultores e agricultoras como sujeitos do processo
e não como objetos do mesmo e beneficiários, incorporam de igual modo a
dimensão de que agricultores e agricultoras são produtores de conhecimento e de
que a melhor metodologia de trabalho não é aquela que se centra na difusão de
conhecimentos, mas aquela que se baseia no intercambio de práticas e
conhecimentos pelos agricultores e agricultoras, experimentadores e
experimentadoras, tendo os técnicos o papel de facilitadores deste caminho.
Esta concepção filosófica e metodológica abre caminho para a incorporação, no
processo de assistência técnica, dos conhecimentos produzidos através dos
séculos por agricultores e agricultoras, conhecimentos estes que se constituem
na base da estrada da convivência com o Semiárido. Ampliar os processos de
convivência com o Semiárido, requer partir das experiências, tendo como
principais instrumentos os intercâmbios horizontais de conhecimentos e as sistematizações,
reflexivas, que possibilitem compreender a realidade na perspectiva de intervir
sobre ela, não para artificializa-la, mas, harmonizá-la.
No
que se refere ao credito, encontra-se ainda bastante defasado. De um lado
porque as propostas de credito ainda se encontram centradas na perspectiva das
cadeias produtivas e sua verticalidade, ignorando que a agricultura familiar e,
em especial o Semiárido, somente se viabiliza pela múltipla e plural exploração
da propriedade (múltiplos plantios e múltiplos criatórios) e pela
plurianualidade.
O
credito ainda estar longe disso, porém, existem outras iniciativas de gestão
comunitárias, a exemplo dos Fundos Rotativos Solidários que tem gerado
transformações para muitas famílias na região.
Esses
fundos, cuja gestão é feita pelos próprios grupos e associações locais, têm
possibilitado o acesso rápido e desburocratizado a pequenos recursos que são
utilizados principalmente para incrementos de infraestruturas produtivas:
melhoria de cercas, bombas para pequenas irrigações, melhoria dos currais dos
animais, equipamentos para criação de abelhas, equipamentos para beneficiamento
da produção, máquinas para produção de forragem, entre outras necessidades.
Esses recursos, em sua maioria oriundos de apoios internacionais, têm
possibilitado uma maior participação das mulheres, sobretudo nas atividades
econômicas da produção familiar. Esse tipo de iniciativa econômica favorece a
construção de laços de solidariedade entre as pessoas, organizações locais e
comunidades, de modo que a inadimplência no repasse dos recursos é
insignificante do ponto de vista percentual. O governo, no entanto, atua com
enorme resistência quando se trata de ampliar essas experiências e nelas
injetar recursos.
3. Comercialização
de circuitos curtos, Mercado Intitucional e Economia solidária
Estas passam
pela economia solidária,( grupos de
produção, fundos rotativos, bancos de sementes, mutirões, processos
comunitários os mais variados); pela busca de comercialização da produção ( Feiras Agroecológicas, Programa de Aquisição de Alimentos, Programa Nacional
de Alimentação Escolar, Compras Públicas, Processos variados de Venda da
Produção); beneficiamento da produção
( organização de grupos para implementação de pequenas agroindústrias de
beneficiamento da produção da AF); iniciativas
culturais ( conviver com o semiárido não significa apenas produzir, mas
também viver a cultura, celebrar momentos, festas, musicas, danças, comidas,
bebidas, resgatar o modo de ser e de viver dos povos do semiárido com sua riqueza
e sua multicoloração); educação
contextualizada ( experiências particulares e oficiais de implementação de
processos educativos através dos quais a escola assume a realidade da
comunidade onde está inserida, parte dela para a produção e transmissão do conhecimento
e produzir conhecimento para a transformação desta realidade.
4. Construção,
gestão e controle social das políticas.
Conviver com o Semiárido
significa também assumir que para transformar a realidade em que se vive, para
sair dos processos de combate à seca para aqueles de conviver com o Semiárido,
há de se interferir nas políticas públicas. .
Efetivamente, de
um lado, há de se assumir as múltiplas práticas de convivência desenvolvidas
pelos agricultores e agriculturas, sistematiza-las e transforma-las em políticas.
De outro lado, ocupar espaços em Conselhos e outros órgãos em que se debatem,
elaboram e controlam as políticas, para neles e através deles propor políticas,
fazer o controle social. A inovação neste debate, com destaque para o Programa
de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semiárido da
Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), reside na gestão e cogestão de uma
política pública, ou seja, cria-se o trinômio: propor, gerir e fazer o controle
social.
É importante
destacar que as experiências de gestão social para acessar as políticas
públicas fazem parte de uma história muito recente. Gestão social aqui
compreendida como a relação sociedade/Estado para superar problemas imediatos,
porém com funções distintas, em que o Estado tem obrigações e a sociedade tem
direitos e deveres.
A gestão é
sempre vista como uma função do Estado, cabendo a ele, e somente a ele, tal
tarefa. A princípio, a formulação está correta. Cabe ao Estado suprir as
necessidades da população. A gestão social não tem a intensão de substituir o
Estado, e sim, acessá-lo, expor suas contradições e ainda fortalecer políticas
exitosas.
Embora as ideias
de participação e controle social estejam intimamente
relacionadas à responsabilidade da sociedade e sejam reafirmadas
pela Constituição Federal, quando se analisa os espaços de gestão, a concepção
tende a restringir o papel da sociedade
apenas à formulação e fiscalização. Tal fato confunde o entendimento
e limita a gestão ao espaço do controle social.
É papel do
Estado, a partir de suas esferas de poder, municípios, estados e união,
garantir e efetivar direitos. Este princípio deve guiar todos os espaços e
diálogos de formulação e controle social das políticas públicas. Todavia, para
além de formular propostas e fiscalizar o Estado, a experiência da ASA em curso
no Semiárido nos convida para irmos um pouco adiante, a
refletirmos e buscarmos entender o papel da sociedade enquanto
executora de uma política pública.
Os espaços de
gestão social conhecidos hoje para a execução das políticas de acesso a água no
Semiárido, a exemplo dos fóruns microrregionais, as comissões municipais e as
comissões comunitárias, não nasceram para cumprir a função de gestores das
políticas públicas, mas sim, para fazer a gestão e o controle de iniciativas
locais, das aguadas comunitárias, casas de sementes, fundos rotativos, grupos
informais de jovens e mulheres, associações, etc. Porém, tornaram-se exitosos e
eficientes reforçando as capacidades organizativas da sociedade na gestão
coletiva das políticas.
Quando o Estado
consegue apoiar uma iniciativa da sociedade para resolver problemas comuns,
este não apenas cumpre seu papel, como amplia o conceito de gestão,
fortalecendo-se enquanto espaço público.
Contudo, o apoio
do Estado para a efetivação da gestão social não é algo tão simples,
seu principal limite está na ausência de um marco regulatório que estabeleça
regras claras na contratação de bens e serviços que permitam ações mais
fluidas e permanentes. O que se tem vivenciado em muitos casos é a
inviabilização das parcerias e a criminalização das organizações e
movimentos que acessam recursos públicos. Neste caso, no tocante ao programa de
cisternas, alguns passos importantes foram dados, uma ação proativa do governo
brasileiro em diálogo com a ASA e governos estaduais da região, um marco na
história do acesso a água e aos recursos naturais, a aprovação do Programa
Nacional de Apoio à Captação de Água de Chuva e Outras Tecnologias Sociais de
Acesso à Água - “Programa Cisternas”, de iniciativa do Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), regulamentado pelos Artigos 11 à
16 da Lei n, 12.873, de 24 de outubro de 2.013, que desburocratiza a execução e
cria regras claras para a execução.
Neste sentido, um balizador
para a gestão social deve partir da premissa que toda relação
sociedade/Estado deva estar ancorada em estratégias
claras cujos interesses comuns estejam acima de interesses
particulares.
III - Elementos da produção de alimentos no Semiárido.
Com o advento da revolução verde,
inúmeras famílias, assessoradas por empresas da extensão rural e centros de
pesquisas agropecuários, passaram a usar massiva e indistintamente todo tipo de
insumos bioquímicos, moto-mecanização e processos desordenados de irrigação.
Estas práticas sem os devidos ajustes tecnológicos, associados a ocorrência de
anos sucessivos de secas, levaram ao esgotamento das condições biofísicas de
muitas áreas, perda ecológica, erosão genética (animais e vegetais),
agravamento dos processos erosivos e a redução da capacidade dos solos de
armazenar água nas precipitações. Ou seja, empobrecimento e desagregação
generalizada das famílias e comunidades.
Como se pode observar, os limites
imputados à região se exacerbaram com a prática do modelo em vigência. Se antes
eram associados à natureza e às famílias (violência simbólica), agora, muito
mais agravados, são justificados enquanto problemas conjunturais, pela
ingovernabilidade do tempo, pelo pouco aprofundamento das pesquisas e testes
para determinados tipos de solos, produtos ou técnicas, e/ou, em alguns casos,
pela incompreensão de suas intencionalidades e capacidades transformadoras. De
defesa fragilizada, o principal limite do modelo parece estar na própria
essência, pois, desconsiderar as características naturais de uma região, mesmo
nas intervenções mais primárias, é um erro rudimentar.
A tarefa para garantir a produção
de alimentos passa a ser restabelecer as bases para a construção de um modelo
de desenvolvimento que considere, sobretudo, as condições naturais da região,
seus limites, potencialidades, culturas, saberes e conhecimentos construídos,
suas peculiaridades. A sustentabilidade, afirmação de um desenvolvimento
equilibrado, passa pelo enfrentamento aberto às concepções capitalistas de
desenvolvimento e às visões oportunistas que se apropriam do discurso
ambientalista, e até revestem seus empreendimentos de alguma maquiagem
ambiental, mas que, na essência, reproduzem os modelos de concentração de
renda, de empobrecimento e de depredação dos recursos naturais. Passa pelo
direito a terra e aos territórios.
O hidro e agronegócio em expansão
na região, com forte apoio governamental, com ampliação dos perímetros
irrigados, são insustentáveis, sua lógica de produção é especializada em monoculturas,
com alta dependência de insumos motomecanizados, adubos químicos e uso
intensivo de venenos; provocam morte e a precarização do trabalho e da vida
humana. Voltadas para os mercado de como
dites, se estrutura em cadeias produtivas. Nas estratégias de produção das
agricultura familiar camponesa, agroecológica ou tradicional, a base é a
policultura/ pecuária/extrativismo. A lógica é a dos sistemas integrados, aonde
se fortalece as dinâmicas dos subsistemas dentro das capacidades e necessidades
das famílias.
Neste sentido, a ação da ASA, dialogando
com estratégias de segurança construída pela famílias, prioriza o
fortalecimento dos quintais produtivos, dos roçados ecológico, da criação
animal adaptados e das práticas extrativistas, todas a partir da agroecologia e
do conceito de transição agroecológica. Destacando-se também as estratégias de
produção de alimentos em sistemas agroflorestais e a partir do manejo da
caatinga.
i - Quintais
A principal estratégia da ASA,
através do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), tem sido, a partir das
cisternas de produção, calçadão e enxurrada, o de potencializar o arredor das
casas, o quintal, espaço de gestão das mulheres, onde coexistem plantas,
bichos, práticas, significados e lembranças. O quinta é a escola dos povos do
campo, é nele que se aprende a plantar, fazer a seleção das melhores sementes,
criar, fazer cercas, fazer o manejo sanitário e reprodutivo dos bichos, fazer
remédios a partir das folhas e cascas de árvores, a ler a natureza. É nele que
se aprende a gostar e respeitar o meio ambiente. O quintal é um espaço mágico
que aproxima a natureza e a produção das pessoas. É nos quintais onde se
realizam as festas, as celebrações, e até pouco tempo, era também no quintal
onde muitas famílias enterrava os seus. O quintal é um espaço sagrado.
Em muitas casos, reforçando a
cultura machista que predomina, os homens, socialmente construídos, tentam
tirar do quintal seu papel de espaço público, resiginificando-o como espaço
privado, pertencendo mais ao mundo da casa do que da rua. Aqui mora uma questão
que precisa ser lembrada e enfrentada.
Essa problemática é perpassada, de modo cruel, por uma marginalização
das mulheres e, por conseguinte, pela ausência de um debate de gênero. São as
mulheres que mais sofrem nesse contexto, sendo colocadas diante de uma dupla
marginalização: a marginalização econômica e social, por viverem no Semiárido,
e a marginalização por serem mulheres.
Diverso, nos quintais se prioriza a
criação de aves (galinhas caipira, patos, perus e guinés, também conhecidos
como capote, galinha d’angola, cocar, “tô fraco”); de pequenos animais; o
plantio de hortas, legumes; plantas medicinais; flores; o roçado das melhores
sementes; plantas frutíferas, leguminosas e plantas ornamentais.
ii - Roçado
O roçado é a principal estratégia
de produção de alimentos no Semiárido, foi com ele que as famílias agricultoras
aprenderam a prática do estoque, sendo de sequeiro, ele expressa as relações da
região com a disponibilidade de água, tem a marca do tempo em seus traços. Este
espaço tem sido fortemente combatido pela extensão rural oficial, e em muitos
casos, por organizações da sociedade civil, ora movidos pela condenação da prática
da queimada, ora, pelos “baixos” resultados alcançados.
A relação das famílias agricultoras
com este espaço não se limita a uma leitura cartesiana de produção ou
produtividade, muito menos ao uso inadequado dos solos, estes bem mais
resultado do acuamento agrário que a cada dia vivem as famílias do meio rural
semiárido. Muitos estudiosos combatem a afirmação que a estratégia de “roça no
toco” é prejudicial, não que não tenha seus efeitos negativos, mas, que a
leitura tem que ser feita de forma a compreender toda a lógica de produção, que
esta, historicamente, vem associada a prática do pousio, bem mais sustentável
que a da terra completamente limpa, pós derrubada e aração. Ao mesmo tempo,
devido ao acessa cada vez menor de áreas disponíveis para o roçado, se faz
necessário o uso de outras técnicas de recuperação de solos, práticas
agroecológicas a exemplo do plantio de plantas adubadoras, rotação de culturas
e as coberturas de solo com restos de folhas, palhas, cascas, troncos, frutos,
pedras, outros. Outra técnica que potencializa o melhor uso dos solos é a
práticas das curvas de nível.
As principais culturas dos roçados,
são: milho, feijão, fava, amendoim, gergelim, quiabo, maxixe, fava, arroz de
alagadiço, tubérculos (mandioca, macaxeira, cará, batatas), melancia, abóbora,
jerimum, melão, outros.
iii – Criação animal
Como já dito anteriormente, para as
famílias agricultoras do Semiárido os animais são a poupança, lugar seguro nos
momentos de precisão, numa doença, no casamento de uma filha, na compra de
utensílios ou de passagens para visitar entes queridos. O animal mais
caraterístico da região é o bode, a cabra. Não é por acaso que é no Semiárido
onde se encontra o maior rebanho de caprinos do país, mais de 75%. Se o
sertanejo é antes de tudo um forte, o mesmo deve ser dito para a cabra, o animal
que melhor se adaptou as características do Semiárido. Dá carne, dá leite e
seus derivados, dá força para o povo.
Herança da ocupação portuguesa na
região, a criação de bovinos no Semiárido tem, em muitos lugares, ainda forte a
cultura e a tradição do vaqueiro. O culto ao boi. Facilmente percebida nas festas
e na cultura regional. O “bumba meu boi”. Em muitos lugares, criar uma vaca dá
status. Nestes casos, os animais não são para o corte, e sim, para o
aproveitamento exclusivo do leite e seus derivados. Dependendo da região, a
criação de bovinos, mesmo que em pequeno número, é inviável, podendo acarretar
prejuízos aos agricultores, mas, associado a cultura, é mantido, o que torna
mais intrigantes as estratégias das famílias na região.
A criação de porcos também é uma
expressão forte em muitas regiões, sobretudo, em estados como Minas Gerais,
Piauí e Ceará, criação feita na maioria das vezes de forma ostensiva, solta, e
em alguns casos, confinados em chiqueiros para engorda, tratados e preparados
para períodos festivos: fim de ano, natal, semana santa, São João, festa da
padroeira da comunidade, noivados, etc. O principal uso do suínos na região é o
consumo de sua carne.
Alguns outros animais fazem parte
da dieta do Semiárido, com destaque para as ovelhas, carneiros, rebanho que
cada dia cresce mais na região. Também era comum o consumo de animais
silvestres, porém, com o uso cada vez mais ostensivo de agrotóxico nos plantios
convencionais, estes tem diminuído. Hoje o consumo de tais animais constitui
crime ambiental.
iv – Extrativismo
Prática
que tem a própria natureza como garantidora de alimentos, quer in natura, quer
beneficiados, processados, comum em grande parte do Semiárido, sendo da
Caatinga maior parte dos produtos extraídos. São frutos, cascas, raízes,
folhas, flores, mel, própoles e animais silvestres.
Para
além da base alimentar fornecida na extração direta, muitas outros produtos são
utilizados no manejo sanitário dos animais, o que garante animais saldáveis,
possibilitando alimentos de melhor qualidade.
Uma
ameaça ao extrativismo no Semiárido tem sido o forte processo de antropismo e a
derrubada da caatinga para o plantio de eucalipto, capim e culturas exóticas, o
que tem causado forte erosão genética de plantas e animais, espécies existentes
apenas na região.
IV - Conclusões.
Para a produção sustentável de alimentos no
Semiárido, investir na construção de tecnologias sociais de captação e
armazenamento de água das chuvas, apresenta-se como uma solução simples, de
baixo custo, prática e fácil de ser implementada. As tecnologias sociais hoje
apoiadas pelo governo brasileiro na parceria com a ASA, e com estados como
Bahia, Ceará, Paraíba, Alagoas, Piauí, Minas Gerais e Rio Grande do Norte,
dialogam diretamente com as necessidades imediatas das famílias e comunidades,
no intuito de ampliar a capacidade de estoque de água para o consumo humano, a
produção de alimentos, demais usos domésticos e recuperação ambiental.
Ir além, construir as base para a segurança e a soberania
alimentar e nutricional na região, exige ampliar a produção e a oferta de
alimentos, em quantidade, diversidade e qualidade, requer uma ação pública focada,
um Plano Nacional de Convivência com o Semiárido, que tenha conteúdo, que tenha
recursos específicos previsto no Orçamento Geral. Tal ação precisa enfrentar um
problema secular no Semiárido, precisa garantir às famílias áreas para plantar
e criar seus animais, precisa mexer na estrutura fundiária, redistribuir as
terras. Por outro lado, precisa garantir e fortalecer o patrimônio genético
gestado pelas comunidades, apoiar as casas e bancos de sementes, investir em
viveiros de mudas nativas e frutíferas, restaurar a base dos rebanhos
adaptados, adquirir animais; Precisa de forte investimento em infraestruturas
produtivas. Precisa ampliar a capacidade de armazenamento da produção através
de estruturas de gestão familiar, armazéns comunitários e entrepostos. Precisa apoiar
massivamente a construção de currais, apriscos, cercados e demais estruturas
para o correto manejo e criação de animais. Precisa permitir o beneficiamento
dos produtos da agricultura familiar, o que exige rever leis sanitárias e a
aquisição de equipamentos. Precisa garantir o transporte do excedente da
produção nas comunidades. Precisa apoiar a comercialização em circuitos curtos
(km zero), reestruturando as feiras comunitárias, municipais e regionais. Precisa
consolidar uma base legal que dê segurança aos gestores e às famílias para o
acesso aos mercados institucionais, a exemplo do Programa de Aquisição de
Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Precisa,
para os agricultores e agricultoras que assim quiserem, fortalecer a
certificação participativa, de forma a permitir os patrões exigido neste
mercado. Precisa reconhecer e ampliar áreas livres de produtos geneticamente
modificados, transgênicos. Precisa rever a política de crédito. Precisa
construir um outra lógica para a política de assessoria técnica, pautada na
troca horizontal de conhecimentos, na sistematização de experiências e na
construção dialogada de novos conhecimentos. Precisa consolidar e assumir pra
si a proposta de educação contextualizada, pautada na realidade da região, em
diálogo com outros conhecimentos.
No rol de
tarefas acima, para além de sensibilidade governamental, do Estado, e do
protagonismo da famílias agricultoras, é papel da pesquisa e das organizações sociais,
a da observação e do diálogo práticas, conhecimentos e saberes já produzido, o
auxilio na sistematização de novas e infinitas práticas em curso na região, visibilizando
tais práticas como ciência popular, conhecimento válido, portanto, legítimas
para se tornem políticas públicas.
Hoje a
ASA reivindica a construção de um Plano Nacional de Convivências com o
Semiárido, o que seria uma ruptura, a concretização de um novo paradigma de
desenvolvimento aonde a região e o bem estar das pessoas vem em primeiro lugar.
Mudar o rumo da história no Semiárido é ir além, é construir um novo marco
civilizatório. A ASA é sabedora que esta é uma ação de grandeenvergadura e tem
a clareza que não se concretizará com a simples aplicação de formulas. Aqui, a
ASA e suas organizações se constituem sujeitos políticos ativos.
Como
forma de reforçar a proposta da ASA, destaca-se sua pauta:
a) Realizar
uma reforma agrária ampla, adequada à realidade do Semiárido e dinamizadora das
condições de produção de alimentos no semiárido, garantindo a segurança
alimentar e nutricional;
b) Adotar
plantios que sejam resistentes e vivam com pouca água (palma, mandacaru,
leucena, umbu, cajá e outras árvores nativas do Semiárido, muitas das quais
presentes na caatinga;
c) Criar
animais que sejam adequados a este clima (bodes, carneiros, galinhas caipira e
outros animais nativos do semiárido);
d) Desenvolver
e utilizar tecnologias que possibilitem ao povo a captação de água das chuvas,
ao invés de deixar que ela se desperdice (cisternas de consumo humano,
cisternas de produção, barragens subterrâneas, tanques de pedra, poços
artesianos onde eles são possíveis, bombas populares poços rasos, aguadas para
os animais, pequenas barragens);
e) Desenvolver
experiências de créditos comunitários e oficiais que tornem possíveis estes
tipos de ações e estratégias;
f) Desenvolver
nas escolas um processo sistemático de educação contextualizada e de
convivência com o Semiárido, para que as crianças e adolescentes aprendam a
querer bem o Semiárido e viver bem nesse espaço geográfico e social, com
diversas alternativas;
g) Evitar
obras faraônicas, a exemplo da transposição do rio São Francisco, que concentra
a água e riqueza em mãos de poucas pessoas, ao invés de partilhá-la;
h) Criar uma
política de partilha da água, de forma que todas as pessoas do Semiárido tenham
acesso à água necessária para viver e para produzir;
i)
Educar todas as pessoas para a conservação do solo,
da caatinga, das águas, da biodiversidade e da vida no Semiárido;
j)
Assegurar políticas de assistência técnica
agroecológica e de convivência com o Semiárido aos agricultores e agricultoras
familiares;
k) Organizar
o processo produtivo dentro de perspectivas, princípios e metodologias
agroecológicas, tendo as pessoas no centro, com sua soberania e segurança alimentar
e nutricional.
Alguém
pode estar lendo esse texto neste momento e se perguntando, como são utópicos
seus autores, para esta pessoa, queríamos dizer que, mais críticos foram os que
diziam que a ideia de construir um milhão de cisternas no Semiárido era uma
loucura. Acreditamos possível e realizamos de forma coletiva. Sim, é possível
construir um novo mundo.
É no
Semiárido a vida pulsa, é no Semiárido que o povo resiste!
REFERÊNCIAS
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Nordeste: abastecimento urbano de água: alternativas de oferta de água para
as sedes municipais da região nordeste do Brasil e do norte de Minas Gerais,
ANA, Superintendência de Planejamento e Recursos Hídricos; Consórcio
Engecorps/Projetec/Geoambiente/Riverside Thechnology. Brasília: ANA, SPR, 2006.
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Recife: ASA, 1999.
ASA, Articulação no Semiárido Brasileiro. Reflexões
e proposições da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), no intuito de
contribuir para a garantia plena do acesso à água para todas as pessoas no
Semiárido: O lugar da convivência na erradicação da extrema pobreza. Recife:
ASA, 2011.
Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA). Tecnologias sociais para convivência com o
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In.: Brasil, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – FOME ZERO
– Uma história brasileira –Vol. II 117-134. Brasília, 2010.
SIQUEIRA. R. De Sobradinho à transposição:
para onde corre o São Francisco?. II Encontro de Ciências Sociais e
Barragens. Salvador, BA, 2007.
[1] Sociólogo,
Coordenador do Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com
o Semiárido: Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da Articulação Semiárido Brasileiro
(ASA). E-mail: barbosa@asabrasil.org.br.
[2] Mestre em Teologia, com
graduação em Filosofia, Teologia e Educação. Assessor do Movimento de Organização
Comunitária (MOC), membro da Coordenação da ASA Bahia e da Coordenação Nacional
da ASA. Presidente do CONSEA-Bahia e membro do
CONSEA Nacional. Foi professor
nos cursos de formação da
RedeSAN/FAURGS/UFRGS. E-mail: naidison@uol.com.br.
[i]A ASA luta para
que mais áreas do estado do Maranhão que reúnem características de Semiárido
também sejam oficialmente reconhecidas (ASA, 2009)
Muito obrigada! Ajudou muito no meu trabalho :D
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